Alunos e professores do C.E. Adino Xavier, em São Gonçalo, assistem ao espetáculo ‘O rapaz da rabeca e a moça Rebeca’
Por Thaynara Santos
Desde 2004, a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) na Fiocruz tem como principal objetivo divulgar ciência de maneira acessível e gratuita para todos. E, por mais um ano, essa meta foi alcançada. 14 ações, realizadas em outubro e novembro em sete municípios do Rio de Janeiro (Baixada Fluminense e Região Serrana), promoveram atividades científicas e educativas em espaços culturais e instituições de ensino. Quase 2 mil pessoas foram alcançadas até o momento.
Ao todo, as Ações Territoriais da 21º SNCT na Fiocruz aconteceram nas cidades de Duque de Caxias, Nilópolis, São João da Barra, Magé, São Gonçalo, Mesquita, São João de Meriti e Nova Friburgo. Elas incluíram apresentações do espetáculo teatral ‘O Rapaz da Rabeca e a Moça Rebeca’, as exposições ‘Nós no Mundo’ e ‘Manguinhos Revelado’, e visitas da equipe de Ações Territorializadas do Museu da Vida Fiocruz. Em novembro, o Sesc Grussaí, de São João da Barra, no Norte Fluminense do estado, receberá mais uma viagem do Ciência Móvel, o caminhão itinerante do Museu da Vida Fiocruz que passou também por Nova Friburgo no início de outubro.
Quem passou pela Casa de Cultura Galpão 252, em Nilópolis, conheceu a exposição que fala sobre os avanços da saúde no Brasil, a ‘Manguinhos Revelado’
Somente em outubro, 1.743 alunos do ensino fundamental, médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA) participaram das Ações Territoriais realizadas em unidades de ensino na Baixada Fluminense. A peça ‘O rapaz da rabeca e a moça Rebeca’ realizou sete apresentações nas seguintes instituições: Escola Municipal Barro Branco (Duque de Caxias); IFRJ – Campus Mesquita; C.E. Doutor Adino Xavier (São Gonçalo) e Colégio Estadual Profª Alda Bernardo dos Santos Tavares (Magé). Cerca de 950 estudantes assistiram ao espetáculo que ocorreu entre os dias 16, 17, 18 e 21 de outubro.
Nos dias 11 e 16 de outubro, a equipe de Ações Territorializadas do Museu da Vida Fiocruz levou atividades para a Escola Municipal Carlos Teixeira (São João de Meriti) e no Colégio Estadual Herbert Moses (Duque de Caxias): a oficina de microscopia ‘Há vida em uma gota d’água?’ e a exposição ‘Manguinhos Território em Transe’. Nas duas instituições, os alunos dos turnos da manhã e da tarde participaram das atividades. Cerca de 793 alunos participaram das ações.
A intensa programação de Ações Territoriais da 21ª SNCT na Fiocruz não se limitou às instituições de ensino. O Sesc São Gonçalo recebeu a exposição ‘Nós no Mundo’, que fala sobre sustentabilidade e consumo consciente. A Casa de Cultura Galpão 252, localizada em Nilópolis, abriu as portas para a exposição ‘Manguinhos Revelado’, que discorre sobre a evolução da saúde pública brasileira.
A arte como retrato da vida
A peça teatral ‘O rapaz da Rabeca e a Moça Rebeca’ aborda temas sensíveis como desigualdade social, preconceito e infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) através da magia das cores e da danças no teatro, além da apresentação de canções populares, como “Pavão Misterioso”, do cantor Ednardo, e “Me Usa”, da Banda Magníficos. O espetáculo é inspirado na história do cordelista cearense José Mapurunga e narra a trajetória de João e Rebeca, dois jovens de famílias rivais que se apaixonam e enfrentam diversos obstáculos para viver esse amor. No final da peça, há uma rodada de perguntas anônimas. Depois são distribuídos cordéis e preservativos para os participantes. A atração atinge diversos públicos, mas tem como prioridade aproximar esse diálogo da juventude.
Estudantes leem cordel distribuído pelos atores da peça teatral
Letícia Guimarães, atriz, diretora e produtora da peça, explica sobre seu surgimento há dez anos:
— A princípio, esse espetáculo era para falar sobre a questão do preconceito. Quando a gente começou a fazer, percebemos que as dúvidas extravasavam as questões só do espetáculo. As pessoas não sabiam ainda como que se pega (o vírus), não sabiam nem qual a diferença entre HIV e AIDS. Aí eu falei, ‘nesse espetáculo eu vou ter que ensinar, mas para ensinar eu vou ter que aprender’. Fomos procurar no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI) que é uma referência, inclusive, no tratamento de HIV/AIDS e encontramos o Nilo Fernandes. Ele generosamente me passou esse aprendizado. ‘Leia, é assim que fala. E é pra falar’. Adolescente tem direitos. Só cabe a nós tentar orientar.
Durante uma apresentação realizada para o terceiro ano do ensino médio, Elisângela Goulart, professora de história do C.E. Doutor Adino Xavier falou sobre sua percepção acerca da apresentação e recepção dos alunos.
— O figurino é uma riqueza muito grande. Traz um tipo de figurino que eles não estão acostumados. Com músicas também que eles não estão acostumados. Então, de modo geral, acho que amplia bem os horizontes culturais deles. Trabalham com cordel, com uma cultura nordestina de que eles, em certa medida, estão próximos, mas estão distanciados também. Os atores são maravilhosos. Agora a informação em si, sobre IST, ela vem de forma muito sutil, e é um ponto muito positivo da peça, essa sutileza com que trata a questão do HIV e da AIDS.
Divulgação científica também é uma questão social
A Escola Municipal Carlos Teixeira, em São João de Meriti, e o Colégio Estadual Herbert Moses, em Duque de Caxias, receberam a oficina de microscopia ‘Há vida em uma gota d’água?’ e a exposição ‘Manguinhos Território em Transe’ nos dias 11 e 16 de outubro, respectivamente. As atividades fazem parte das Ações Territoriais do Museu da Vida Fiocruz, projeto do Serviço de Educação que leva atividades especiais para escolas.
A exposição ‘Manguinhos Território em Transe’ fez parte das Ações Territoriais nas escolas
José Antônio Nascimento, diretor da Escola Municipal Carlos Teixeira, alerta sobre a importância de atividades educativas nas escolas: “É importante para as crianças, para clarear um pouco as ideias deles, aprender também e ter uma atividade diferenciada também na escola para eles. Para não ficar só com o tradicional. O conteúdo diversificado também ajuda muito no aprendizado deles”, conta.
André Cruz, educador no Museu da Vida e um dos responsáveis pelas ações territorializadas explica a importância da exposição ‘Manguinhos Território em Transe’, que apresentou aos alunos ao lado de Ana Carolina Santos, pedagoga, estudante de História e bolsista no Museu da Vida Fiocruz:
— Nosso principal objetivo com a exposição é não negligenciar a realidade desses alunos dentro da escola e valorizar essa vivência não como algo positivo, mas como algo possível de ser transformado, de entender a precariedade, os motivos da favela ser o que a favela é. Queremos possibilitar um senso crítico e mais transformador através da educação. Eu sempre gosto de reforçar que essa exposição foi construída a partir de uma troca entre moradores de Maré e Manguinhos. Às vezes pode soar como ‘Ah, nossa, essa exposição só trata de coisas ruins’, e não é isso. Foi uma realidade trazida pelos moradores.
A Equipe de Ações Territorializadas do MVF também apresentou a oficina de microscopia no Colégio Estadual Herbert Moses. “Nessa oficina nós divulgamos ciência de uma forma diferente do que é produzido em uma sala de aula normalmente. Os alunos ganham uma outra noção social. Falamos sobre o cuidado da água, eles entendem que há outras realidades, que há pessoas que não têm acesso à água potável. Eles criam pensamento crítico. No início [da oficina] eles ficam meio acanhados, tímidos, sabe? Acham que só vamos fazer uma palestra e quando veem que é uma troca, que estamos ali disponível para escutar eles também”, explica Victória Laysa, graduanda de Ciências Sociais e bolsista do Museu da Vida Fiocruz.
Exposições especiais
Entre os dias 11 e 18 de outubro, a exposição ‘Manguinhos Revelado’ esteve em exibição na Casa de Cultura Galpão 252, em Nilópolis. A mostra teve como objetivo divulgar a história da Fundação Oswaldo Cruz (da sua criação até os dias atuais), dos avanços da saúde pública brasileira e do processo de urbanização no Rio de Janeiro, que ocorreu no século 20, através de fotografias.
Em exibição no Sesc São Gonçalo, a exposição ‘Nós no Mundo’ abordou temas como sustentabilidade e meio ambiente
A mostra ‘Nós do Mundo’, que faz parte dos projetos do Museu da Vida Fiocruz e busca conscientizar sobre a responsabilidade do ser humano na degradação do meio ambiente e nas mudanças climáticas sofridas pelo planeta Terra, passou ainda por duas cidades: Duque de Caxias e São Gonçalo.
A SNCT 2024 na Fiocruz contou com parceria da Pró-Reitoria de Extensão | PR-5 da UFRJ e Sesc Rio, além do apoio do CNPq, da Fulltime Logística e Águas do Rio. A realização é da Fundação Oswaldo Cruz, Ministério da Saúde e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.